- por cthom
Quando uma pessoa começa a fazer análise comigo, eu sempre digo a ela assim: “Não pense que sua vida vai virar um conto de fadas só porque você está fazendo análise. Sabe por quê? Porque a vida de ninguém é perfeita. Problemas, perdas e frustrações sempre vão cruzar o nosso caminho. Assim como os encontros, as alegrias e prazeres. Aqui, em nossas sessões, você vai entrar em contato com sua humanidade para buscar uma vida satisfatória, com menos angústias – podendo enfrentar os desafios sem adoecer e sentir-se pleno para desfrutar do melhor da vida”.
Mas o que eu noto, de verdade, é que muitas pessoas ainda têm medo de fazer terapia – como a análise, por exemplo. Vou justificar elencando os aspectos que podem influenciar na manutenção de alguns mitos.
Nem todas as pessoas acreditam que conversar com alguém pode ajudar. Freud sempre disse que a Psicanálise é justamente a cura pela palavra. Numa sessão, o analisando é convidado a falar o que vem à sua mente sem censura. O analista, por sua vez, recebe este conteúdo sem fazer qualquer tipo de julgamento. E é a partir desta escuta terapêutica – na qual o analisando também se escuta – que ele consegue fazer elaborações e buscar caminhos para minimizar suas angústias.
Imagine que a pessoa viveu um trauma. Trata-se de qualquer situação que ultrapassou nossa capacidade emocional de lidar com ela. Devido a essa incapacidade, ficam fragmentos, resíduos em nossas vidas que geram sintomas – como medo, ansiedade ou pânico. A Psicanálise vai ajudar esta pessoa não a esquecer o que ela viveu. Mas, por meio de escuta e elaboração, ajudá-la a lidar com este fato doloroso, integrando-o à sua vida.
Outro motivo pelo o qual as pessoas resistem à terapia – que me parece até uma desculpa, na verdade – é a hierarquização da dor: tem gente que pensa que só precisa fazer terapia quem está no fundo do poço!
No entanto, não é preciso estar vivendo uma situação grave para fazer análise. Aliás, não espere sua tristeza aumentar para procurar ajuda porque este sofrimento pode ser desnecessário ou lhe afetar de uma maneira ainda mais intensa.
A análise não ajuda só quem tem um problema declarado e instalado. É um caminho para quem busca ampliar o conhecimento sobre si mesmo, por quem quer ir “além”, entendendo como funciona. Também é de suma importância para ajudar quem está passando por mudanças – de emprego, de cidade, a chegada da maternidade, o casamento, a separação, a meia-idade … Acreditem: mesmo vivendo momentos felizes, por vezes tão desejados, angústias e conflitos podem surgir.
Digo ainda que a análise nos ajuda a refletir sobre as questões cotidianas e seus impactos. Quem não perdeu amigos ou brigou em decorrência da polarização política que contaminou o Brasil nos últimos anos? E quem não teve – ou tem – um sofrimento intenso em decorrência deste contexto?
Acho importante citar que muitas pessoas simplesmente não querem ou não fazem análise porque não querem se olhar, falar sobre si e encarar dores e angústias. Realmente não é fácil. Mas já sabemos, também, que todo este conteúdo que guardamos uma hora ressurge escondido por trás de sintomas. Como dizia Freud, “As emoções não expressas nunca morrem. Elas são enterradas vivas e saem de piores formas mais tarde”.
Mas se por um lado não é fácil falar sobre nossas dores, por outro lado, é libertador. Carregamos muitos medos, culpas, angústias, expectativas e regras que nos escravizam e não nos permitem viver, amar e desfrutar do melhor da vida. Também descobrimos que muito do que desejamos somos nós que nos impedimos de realizar – seja pela moral, pela sociedade, pela religião, pela cultura, pela necessidade de corresponder a padrões alheios. E, pasme, temos desejos inconfessáveis! Descobri-los nem sempre é fácil. Sim, a gente se surpreende!
No processo analítico, vamos abordar todas essas questões. E é muito comum que as pessoas revejam suas vidas e história e passem a viver de forma mais leve. Com mais foco em si, em seus desejos, e menos preocupadas em ser o que o outro quer que elas sejam.
É importante deixar bem claro que análise é um processo. Tem começo, mas não podemos prever o fim. Tem pessoas que fazem análise por muitos anos. Recentemente, a cantora Sandy, por exemplo, declarou que faz desde os 18 anos – e ela está com 38! O ator Selton Mello é outro que não só faz análise há muitos anos, como levou este universo ao conhecimento de todos por meio da série Sessão de Terapia – que eu pessoalmente adoro!
Por fim, lembro do fundador da psicologia analítica, o psiquiatra suíço Carl Jung – que disse assim: “As pessoas farão qualquer coisa, por mais absurda que seja, para evitar encarar suas próprias almas”. E foi além: “Aquele que olha para dentro, desperta”.
Desperte você também!
Crédito da imagem: Br Freepick