- por cthom
A Síndrome de Burnout, desde o dia 1º de janeiro de 2022, passou a ser considerada uma doença ocupacional e já consta na Classificação Internacional de Doenças (CID 11). Trata-se do esgotamento resultante do trabalho, um estresse crônico que traz consequências perigosas à saúde física e mental.
A lista de sintomas é imensa, mas vou citar alguns deles: são pessoas que se sentem esgotadas, um cansaço tão profundo que não passa com férias, folgas ou num final de semana. Por isso, a produtividade despenca: a pessoa vai ao trabalho, mas só de corpo presente: está mentalmente ausente e a qualidade do trabalho é impactada.
Em função do quadro, os que sofrem de Burnout podem faltar ao trabalho com frequência e, claro, correm o risco de perder o emprego. No aspecto físico, podem ter depressão, mudanças no apetite, aumento no consumo de álcool, problemas relacionados ao sono, dor de cabeça, baixa imunidade, alterações na pressão arterial e taquicardia, entre outros sintomas.
De acordo com o International Stress Management Association no Brasil, 72% da população economicamente ativa no nosso país possui altos níveis de estresse. Desse total, 32% desenvolveram Burnout.
Não faz muito tempo que um caso de Burnout ficou conhecido. É o da jornalista Izabella Camargo, apresentadora de telejornais da Globo.
Ela fazia o horário da madrugada, apresentava os telejornais Hora 1 e Bom dia Brasil. Dois anos depois desta rotina, seu organismo começou a dar sinais de algo não estava bem: seu corpo parou de produzir serotonina, conhecido como o hormônio da felicidade, e ela entrou em depressão.
Logo depois, passou a sofrer com a insônia e a exaustão. Relatou que vivia à base de remédios para dormir e outros para manter-se acordada. Mas não foi só isso: sofria, ainda, com dores de estômago, dores de cabeça e crises de taquicardia. Exames comprovaram que seu nível de cortisol, que entre outras funções ajuda o organismo a controlar o estresse, estava altíssimo.
Por recomendação dos médicos, Izabella pediu afastamento do trabalho. Ao retornar, foi demitida – e viveu um imbróglio judicial com a emissora por este motivo. A jornalista compartilhou sua experiência no livro “Dá um tempo!: como encontrar limite em um mundo sem limites”.
Parece que falar em Burnout, como diz o título do livro de Izabella Camargo, nos faz inevitavelmente pensar em limites.
Infelizmente, ainda ouvimos muito relatos de pessoas que se queixam de jornadas de trabalho muito longas e exaustivas. Profissionais que são demandados até após o horário de trabalho ou mesmo em suas folgas – e sentem-se constrangidos, até, em pedir férias. Há empresas, ainda, que alimentam um ambiente de trabalho altamente competitivo achando que, assim, vão motivar pessoas e atingir um desempenho melhor.
Obviamente, nem sempre a empresa é a vilã … Há pessoas naturalmente competitivas ou que exigem o máximo de si mesmas. São perfeccionistas em excesso. Não se permitem relaxar, desligar do trabalho, e incorporam a ‘personalidade jurídica’ 24 horas por dia.
A grande questão é que algo precisava – e ainda precisa – ser feito. Do ponto de vista legal, o reconhecimento do Burnout como doença já ajuda aqueles que precisam de um afastamento com o devido amparo ou mesmo de uma base para buscar algum tipo de reparação na Justiça do Trabalho.
Por outro lado, as empresas precisam rever seu ambiente de trabalho, tornando-o mais seguro, humanizado, acolhedor e que enxergue os profissionais como pessoas. Sentindo-se valorizados – e estando saudáveis nos aspectos físico e emocional – certamente a motivação para o trabalho, a criatividade, a dedicação e os resultados vão aumentar.
E aqueles que fazem do trabalho a única razão de suas vidas – deixando de lado sua própria saúde física e mental – também precisam repensar esta relação para entender um ponto bem importante: se a dedicação e a competitividade excessivas são realmente uma necessidade ou uma fuga.