Socorro, meu filho entrou na adolescência

Socorro, meu filho entrou na adolescência

“Um trapezista sem rede”. Assim definiu o adolescente a psicanalista Diana Corso, autora de diversas obras que tem a adolescência como tema.

Na prática, o que se sabe é que esta fase da vida costuma deixar os pais muito – mas muito mesmo – intrigados. “O que eu fiz de errado?”  é uma pergunta muito repetida pelos pais de adolescentes, assustados com as muitas transformações a que assistem, desde as físicas às ‘comportamentais’, como costumam definir. Aquela criança dócil, obediente, carinhosa, deixou de existir. “O que será que aconteceu?”, perguntam os pais, muitas vezes se esquecendo de que também passaram por esta fase.

Tudo começa com a puberdade. Biologicamente, a partir dos onze anos de idade, os corpos de meninos e meninas começam a se transformar, impulsionados pela força dos hormônios. Nos meninos, crescem o pênis, os pelos e a voz se modifica. Aumentam a massa corporal e os músculos.

As meninas também assistem a uma verdadeira transformação fisiológica. Os seios crescem e a bacia se alarga. Com a menstruação, vêm as sensações ovarianas. Em resumo, as transformações biológicas da puberdade avisam: agora, sim, os jovens estão prontos para procriar.

Mas acreditem: essa mudança física, para eles, provoca uma sensação de estranhamento dentro do próprio corpo. E eles ainda têm de lidar com os olhares de quem assiste a este processo todo – inclusive, os pais.

E tem mais: vem o despertar da sexualidade. Já imaginou como ficam aqueles que, de alguma forma, enfrentam dúvidas ou conflito neste sentido? Como segurar todos os impulsos? Até onde é possível ir? E de que forma?

Do ponto de vista psíquico, muitas outras transformações acometem os adolescentes. O psicanalista argentino, Juan David Nasio, no livro “Como agir com um adolescente difícil”, assim define o jovem: “ … tudo nele é contraste e contradição. Ele pode ser um tanto agitado, quanto indolente, eufórico e taciturno, revoltado e conformista, intransigente e esclarecido; num certo momento entusiasta e, bruscamente, apático e deprimido … Coloca nas nuvens alguém mais velho que admira como um rapper, um líder de gangue ou um personagem de videogame, com a condição de que seu ídolo seja diametralmente oposto aos valores familiares… Aos pais, manifesta sentimentos que são o oposto dos que sentem realmente por eles … Tais reviravoltas de humor e atitude, tão frequentes e bruscas, seriam percebidas como anormais em qualquer outra época da vida. No entanto, na adolescência, nada mais normal!”.

O adolescente padece das dores de crescer… Terá angústias, tristeza, revolta porque, o tempo todo, tentará equilibrar-se entre a explosão libidinal de seu corpo e as exigências sociais vindas dos pais, da sociedade, da cultura e dos amigos, entre outras pressões.

Por outro lado, o mesmo olhar incomodado com a reação dos outros, se volta para ele próprio. “Consigo atender aos padrões do grupo ao qual pertenço? Sou atraente o suficiente?” O adolescente  é capaz de atacar a si mesmo se não reflete a imagem desejada.

A relação com os pais ou cuidadores é um capítulo à parte. A adolescência marca o caminhar do jovem rumo a novas relações, agora fora da família. Os pais não são mais modelos de identificação, eles são substituídos. Este desligamento, ou emancipação dos pais, como disse Freud, é necessário para o nascer de uma nova geração.

Mas esta separação dos pais é simbólica. Trata-se de afastar-se daqueles pais idealizados, cheios de qualidades. Como conhecem também seus pontos fracos, os adolescentes fazem uso deste conhecimento para justificar este afastamento e passam até a criticar os pais, uma forma de enfraquecê-los. Comparar os pais com os do amigo – que sempre serão muito mais legais – é bem comum diga-se de passagem.

Vale lembrar que o adolescente, ainda que atue em prol do afastamento, deseja acolhimento e precisa ser contido pois, tudo nele é explosão. O reconhecimento do adulto é sempre uma necessidade.

Mas muitas vezes, diante da rebeldia adolescente, os pais desistem de suas funções. Como nem sempre são ouvidos, levados a sério e respeitados, simplesmente “deixam rolar”. São os pais que se separam dos filhos. E sabe o que os adolescentes podem fazer ao se verem abandonados? Lutam desesperadamente por atenção. Começam, então, aquelas típicas dificuldades e problemas da adolescência – mau comportamento ou desempenho insatisfatório na escola, companhias nem sempre muito nobres, envolvimento em situações perigosas e até mesmo colocar-se em risco com bebida ou drogas.

Outra reflexão importante é pensar em outro peso que o adolescente carrega: a obrigação de ser feliz. A adolescência ainda é muito idealizada, “é a melhor fase da vida”, dizem os adultos. E diante de tal afirmação, este ser que está em plena mutação, tentando entender tudo o que está acontecendo com ele, entra em conflito. Sabe por que? Tem muito adolescente que não se sente feliz. Alguns nem têm o privilégio de viverem como adolescentes – vão para o mercado de trabalho para sobreviver. Outros já têm filhos e muitas responsabilidades. E não é só isso. Já imaginou como se sentem os que estão desconfortáveis com seu corpo? Os que não têm suas investidas amorosas devidamente retribuídas? Os que sofrem algum tipo de bullying ou que acreditam não se encaixar nos padrões vigentes? Os adolescentes são muito sensíveis às frustrações e à fragilidade de sua autoestima – com consequências, muitas vezes, bem complicadas.

Estima-se que, no mundo inteiro, de 10% a 20% dos adolescentes vivenciem a depressão, que pode levar ao suicídio em casos de extrema gravidade: esta é a segunda causa de morte entre adolescentes e jovens brasileiros de 15 a 29 anos.

É … criar adolescentes não é nada fácil. Eu mesma experimento diariamente as dores e as delícias de ser mãe de um, que está com 16 anos. Senti que a minha tarefa se tornou menos desafiadora quando entendi que precisava me manter por perto – mas na hora que ele está disposto. Criar pontes para gerar conversas – tentando estar por dentro do que desperta o interesse dele e aproveitar essas oportunidades para falar o que precisa ser dito.

Também precisei – e ainda preciso – rever minhas expectativas com relação a ele e suas escolhas. Não é fácil descobrir que um filho não é 100% do que sonhamos como pais. Eles são de outro tempo, tem outros gostos, influências e maneiras de sentir. Precisam seguir seu caminho sem a preocupação de viver nos agradando, com medo de perder nosso afeto.

É fundamental, ainda, não desvalidar o sofrimento dos adolescentes. Não vamos conseguir poupá-los das dores e frustrações. Mas quando a gente reconhece o que eles sentem, a superação fica muito mais fácil.

No mais, acredito que os pais, muitas vezes, fazem dos filhos uma vitrine para mostrar como são bons. Se matam para dar tudo, muitas vezes até ultrapassando qualquer limite. Se os filhos forem bem sucedidos, provam que os pais fizeram um bom trabalho.

Mas talvez, a receita seja bem mais simples. Filho, seja criança ou adolescente, precisa mesmo é de amor e amparo. Com isso, eles vão longe, podem acreditar!

Imagem de Ana Krach por Pixabay

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